Flávio Bolsonaro lança pré-candidatura à Presidência em 2026 e expõe disputa pela liderança da direita

Com aval do pai, hoje preso e inelegível, senador assume missão de manter o bolsonarismo no jogo, provoca reação negativa do mercado financeiro e enfrenta divisão interna no campo conservador.

O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) oficializou, na sexta-feira (5), que é pré-candidato à Presidência da República em 2026, com apoio direto do pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A confirmação foi feita em mensagem publicada nas redes sociais, na qual o parlamentar afirma ter recebido a “missão” de dar continuidade ao projeto político do bolsonarismo.

O anúncio ocorre em um contexto inédito: Jair Bolsonaro cumpre pena de 27 anos de prisão após condenação por tentativa de golpe de Estado em 2022 e está inelegível até 2030, mas segue como principal liderança simbólica da direita radical no país. Ao apontar o primogênito como herdeiro político, o ex-presidente reorganiza o tabuleiro da oposição e obriga aliados e adversários a recalcular estratégias para 2026.

Anúncio nas redes e “missão” dada pelo pai

A pré-candidatura de Flávio foi apresentada em postagem no X (antigo Twitter) e em nota pública, na qual o senador diz assumir “com grande responsabilidade” a decisão de Jair Bolsonaro de lhe confiar a continuidade do projeto de nação defendido pelo grupo.

A mensagem teve efeito imediato dentro do PL e do campo bolsonarista: governadores, deputados e lideranças regionais passaram a ser pressionados a se posicionar sobre o novo nome para o Planalto. Antes da confirmação, o favorito de parte do mercado e de setores moderados da direita era o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), visto como opção mais palatável para o eleitorado de centro.

Analistas avaliam que, ao “ungir” o filho, Jair Bolsonaro sinaliza que pretende manter o comando da estratégia política mesmo atrás das grades, usando Flávio como rosto institucional de um projeto que continua orbitando sua figura.

https://x.com/FlavioBolsonaro/status/1997011409754800625?s=20

Reação negativa do mercado financeiro

O anúncio da pré-candidatura foi seguido por uma reação imediata do mercado financeiro. No dia seguinte à confirmação, o real se desvalorizou em até 3% frente ao dólar e o índice Bovespa caiu cerca de 4%, refletindo a leitura de parte dos investidores de que a escolha de Flávio amplia incertezas sobre o futuro econômico e político do país.

Relatos colhidos por veículos internacionais apontam que parcelas do empresariado e do mercado preferiam uma candidatura ligada ao mesmo campo ideológico, mas com perfil mais moderado, como Tarcísio de Freitas. A leitura é que o “selo” Bolsonaro carrega um alto índice de rejeição, o que limita a competitividade eleitoral e aumenta o risco de polarização extrema num eventual segundo turno.

Direita dividida: tentativa de unificação ou início da sucessão?

O anúncio de Flávio mexeu imediatamente com o equilíbrio interno da direita. Reportagem do portal Poder360 mostra que alas mais fiéis ao ex-presidente celebraram a escolha do primogênito, considerado o mais “político” e habilidoso dos filhos, enquanto outros grupos alertam para o “teto de votos” imposto pela rejeição à família Bolsonaro.

Análise da CNN Brasil aponta que a pré-candidatura de Flávio é também uma tentativa de pacificar disputas internas – tanto dentro da família quanto entre as lideranças da direita –, antecipando o debate sucessório para evitar que o espaço seja ocupado por outros nomes sem o aval direto de Jair Bolsonaro.

Ainda assim, colunistas lembram que o movimento é sintoma de um impasse: o bolsonarismo entra oficialmente na fase da sucessão, mas ainda não resolveu a pergunta central – quem de fato lidera o campo enquanto Jair Bolsonaro está preso e juridicamente fora do jogo?

Primeiros atos de pré-campanha: púlpito e base evangélica

O primeiro compromisso público de Flávio após o anúncio foi um culto na Comunidade das Nações, igreja evangélica em Brasília, neste domingo (7). Foi ali que o senador se apresentou, na prática, como pré-candidato ao eleitorado evangélico e prometeu falar à imprensa ao fim do evento.

A escolha do púlpito como palco inicial não é casual. O segmento evangélico foi decisivo nas campanhas de Jair Bolsonaro e segue sendo uma das bases eleitorais mais disputadas para 2026. A sinalização de Flávio é de continuidade desse diálogo, reforçando temas caros a esse público e mantendo a estética e o discurso que marcaram as campanhas anteriores do pai.

Desafios no horizonte: unificar a direita e ampliar para além da bolha

A pré-candidatura de Flávio Bolsonaro coloca à frente do senador um conjunto de desafios simultâneos:

  • Unificar a direita: acomodar ambições de outros nomes competitivos, como Tarcísio e Ratinho Jr., sem romper com governadores e lideranças regionais;
  • Administrar a sucessão familiar: equilibrar o peso político de Jair Bolsonaro, mesmo preso, com as expectativas dos irmãos e da ex-primeira-dama Michelle, que já foi cogitada para disputar cargos majoritários;
  • Responder ao mercado: reduzir temores em relação a radicalizações e sinalizar compromisso com responsabilidade fiscal e previsibilidade econômica, diante da reação negativa inicial da moeda e da bolsa;
  • Ampliar o eleitorado: sair da bolha bolsonarista e dialogar com o centro, ao mesmo tempo em que administra um discurso alinhado à base mais radical, especialmente em temas como anistia, costumes e segurança pública.
  • Entre aliados e adversários, permanece a dúvida se a pré-candidatura de Flávio veio para ficar ou se funcionará como trunfo de negociação política, seja para pautas como anistia, seja para composição em torno de outro nome mais competitivo da direita em 2026.

Enquanto essas respostas não vêm, o movimento já garantiu um primeiro efeito concreto: recolocou o bolsonarismo no centro do debate sobre a sucessão presidencial e obrigou todos os atores do tabuleiro a recalcular suas próximas jogadas.

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